As lideranças escudam-se na retórica estatutária, reúnem os órgãos por mera formalidade, com tudo decidido, e isso transmite a ideia de tacho para uma unanimidade que confunde o rigor com a cumplicidade.
É verdade que Miguel Albuquerque ganhou as internas no PSD-M, há um ano, contra Manuel António Correia, e depois disso ganhou várias eleições, regionais, nacionais e europeias, sendo que nestas últimas não conseguiu um dos objetivos de eleger um eurodeputado. É verdade isso tudo, como é verdade que Miguel Albuquerque, entre 2012 e 2014, perdeu primeiro, num confronto equilibrado (dizem com algumas dúvidas, como agora) e ganhou depois numa segunda volta com Manuel António e já sem Jardim na "corrida". As verdades de hoje, em política, poderão ser diferentes das de amanhã, sobretudo em conjunturas distintas e contornos de vária ordem que a atividade político partidária vai criando.
Quando Miguel Albuquerque perdeu contra Jardim, ele próprio e os seus apoiantes à epoca, duvidaram dos resultados e nos condicionalismos, partidárias e estatutárias, colocados em prática pela máquina de então, que segundo relatos da altura impediram Albuquerque de ganhar já ali. Hoje, os argumentos repetem-se, com outros protagonistas, mas sempre com um ponto comum: as estruturas ao serviço do instituído e não dos militantes, grande parte deles de pouca exigência e rigor na fiscalização do partido, no pagamento das obrigações de quotas e na construção de uma vida partidária que vá além do apoio "cego" em troca de bebesses, da mais variada natureza. O que é uma prática antiga, que de certo modo a par da inoperância da oposição, explica o poder de quase meio século.
A história, neste caso partidária, repete-se. Albuquerque queixou-se da falta de democracia interna, de um resultado equilibrado, por contornos duvidosos, mas com uma leitura que o então candidato derrotado fez: disse ter perdido as eleições "por uma pequena margem de votos, e que isso tem um significado político para o partido. O candidato derrotado diz ainda que está disponível para colaborar com a nova liderança". Alberto João Jardim venceu as eleições internas no PSD-Madeira com 53 por cento contra os 47 por cento de Miguel Albuquerque.
Jardim admitiu, à RTP-M, que foi uma vitória renhida e que estes resultados revelam que há uma divisão no partido e que que o PSD Madeira é o principal derrotado.
Depois da derrota, a vitória em 2014: segundo os dados divulgados pelo PSD/M, Miguel Albuquerque derrotou na segunda volta das eleições internas do partido o atual secretário regional do Ambiente e Recursos Naturais da Madeira, Manuel António Correia, alcançando 3.949 votos. O candidato derrotado conseguiu 2.216 votos (35,94%).
Como por aqui se vê, esta tem sido a estratégia do PSD-M sempre que estamos perante contestação interna. Parece ter feito "escola", o que não surpreende atendendo a que os "alunos" são praticamente os mesmos, digamos que "beberam" os mesmos ensinamentos e melhoraram a estratégia e a argumentação, a coberto de órgãos que não têm qualquer equidistância dos líderes, fazem o que eles querem e encaixam os estatutos nos objetivos pretendidos. E, claro, não há verdadeira democracia nos partidos. As lideranças escudam-se na retórica estatutária, reúnem os órgãos por mera formalidade, com tudo decidido, e isso transmite a ideia de tacho para uma unanimidade que confunde o rigor com a cumplicidade.
A política continua. Ou assim ou um dia de outra forma.
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