O que se passa hoje é muito semelhante ao que se passou quando Albuquerque enfrentou Jardim na luta pela liderança. Mudam-se os tempos, alternam os protagonistas, mas não se mudam as vontades e os expedientes.
O líder do PSD Madeira está no seu direito de recusar eleições internas, acha que a sua liderança foi legitimada tem pouco tempo e considera que, entretanto, não mudou nada para justificar nova consulta aos militantes.
Da mesma forma que é completamente legítima a intenção de Manuel António Correia de pedir novas internas recorrendo ao que está consagrado nos estatutos do partido, designadamente nos prazos e nas exigências de um mínimo de 300 assinaturas devidamente enquadradas em termos regulamentares, de militantes efetivos com quotas pagas.
Acontece que as razões políticas que Albuquerque invoca, bem como os prazos curtos que considera determinantes para não haver eleições internas face às regionais de 23 de março, situam-se num patamar de discussão aceitável, é uma opinião discutível, muitos não aceitam, mas que na prática
visa defender a (sua) liderança em vigor, uma espécie de "empurrar com a barriga" mesmo que muitos interpretem a estratégia como um arrastar do partido para um beco sem saída. O que se situa já num patamar inaceitável é toda a encenação adotada pelos órgãos do partido, numa tentativa clara de ganhar tempo fazendo perder tempo uma intenção de ir para eleições, demonstrando uma visível atuação intencionalmente demorada, comprometedora e manipuladora, pode não ser legalmente, mas na opinião pública já é. O Conselho de Jurisdição ficou muito mal neste processo ao levar 24 dias para analisar a petição, considerando que das 540 assinaturas apresentadas não existiam o mínimo de 300 válidas. Ficou mal levar 24 dias para verificar procedimentos tão simples em função dos meios disponíveis, no partido, para tornar essa verificação mais eficaz. Deu a ideia de uma intencionalidade e uma instrumentalização para atrasar processos e uma parcialidade que fez emergir muitas dúvidas quanto à democracia partidária, quando relativamente à democracia externa esta já tem um outro sentido de dar voz ao povo.
Mas se acham que as metodologias no PSD Madeira mudaram muito neste percurso de governação autonómica, e ninguém conheceu outro, enganam-se. Se acham que Miguel Albuquerque tem métodos diferentes de Jardim, não tem, tem os mesmos, e a "escola" é a mesma, a diferença é que Albuquerque, também muito explosivo e temperamental no recato, é uma pessoa diferente de Jardim, este explosivo seja onde for. Albuquerque faz quase tudo o que Jardim fazia, com a inteligência que Jardim não teve para um "ar" mais respirável, mas Jardim gostava de dizer que fazia e que mandava, Albuquerque é mais cuidadoso fazendo igual. Sempre houve exonerações, sempre houve nomeações, sempre houve uma "seleção" entre os nossos e os que pareciam ser de outros. Os "nossos" diziam que sim, os outros eram comunistas na altura, um conceito que perdeu força com o definhar do PCP. O argumento passou a ser outro, já não era do PCP, era mesmo dentro mas dos "outros", pior do que se fosse oposição. Até aos dias de hoje em que o PSD está dividido e os articulistas "armados até aos dentes" no sítio do costume. Até aqui é igual parecendo diferente.
Albuquerque sabe fazer melhor, defende-se mais. Até na subsidiodependência, que Jardim tanto critica, Albuquerque faz o que Jardim começou mas agora com uma abrangência muito maior, chega até ao berlinde. Nem Jardim, às vezes "perdido no eu", se lembrou disso com este alargamento. O "polimento" é outro.
E no que toca aos órgãos do partido, é praticamente igual. O presidente decide, manda as notícias para os jornais e depois apresenta aos órgãos do partido, que fazem de conta que existem. Há décadas. O que se passa hoje é muito semelhante ao que se passou quando Albuquerque enfrentou Jardim na luta pela liderança. Albuquerque dizia na altura o que Manuel António diz hoje sobre a falta de democracia interna e o bloqueio dos órgãos. Mudam-se os tempos, alternam os protagonistas, mas não se mudam as vontades e os expedientes.
Mas se for para mudar, só mesmo mudando.
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