Centrista Luís Miguel Rosa admite: CDS no Governo é uma forma de permanecer relevante
- Henrique Correia
- há 7 dias
- 3 min de leitura
Antigo responsável pela ARAE, do CDS, defende que o seu partido, face "aos riscos de dependência do PSD", deve, como ponto essencial, fazer "a diferenciação na comunicação pública, evitando alinhar-se cegamente com o discurso do PSD e adotando uma comunicação própria, reforçando as diferenças ideológicas e programáticas sempre que possível".

O acordo de Governo e de incidência parlamentar entre o PSD e o CDS é normal dentro das circunstâncias políticas que colocavam o poder, de novo, num espectro de ingovernabilidade. E para o PSD, o CDS era um aliado natural. Para o CDS também, relativamente ao PSD. Com um elemento fundamental para quem acabava de ter o seu pior resultado, perdendo votos e um deputado. Chegar ao poder neste quadro era uma "dádiva" para o partido liderado, na Região, por José Manuel Rodrigues.
De um lado e do outro, esta dependência não é muito bem recebida por alguns militantes, mesmo entre aqueles que, no PSD-M, fizeram a unanimidade, e os que, no CDS, aprovaram por maioria. E mesmo assim, a animosidade social-democrata interna foi maior quando, desde 2019, o líder do CDS conseguiu a liderança do principal órgão da Autonomia como contrapartida do apoio ao Governo PSD. Uma "chantagem", disseram alguns. Um mal menor, disseram os mais pragmáticos face à necessidade do PSD-M em manter-se no Governo.
Agora, foi igual de forma diferente. O pouco nunca valeu tanto e José Manuel Rodrigues, que muitos dizem ser um político de "sorte grande", voltou a negociar, mas agora ainda mais difícil, numa base de derrota do seu partido.
Um artigo de Luís Miguel Rosa, do CDS-M, ex-responsável pela Autoridade Regional das Atividades Económicas (ARAE), publicado no JM, toca em pontos fulcrais deste acordo. E reconhecendo uma circunstância normal desta união, não deixa de colocar o "dedo na ferida" face aos eventuais refkexos futuros para o CDS-M, os riscos da dependência relativamente ao PSD podem expressar uma perda de identidade que põe em causa o projeto.
O articulista escreve que "esta parceria funciona como um pilar de estabilidade e continuidade. A manutenção do acordo reflete não apenas a necessidade de governabilidade, mas também uma estratégia política do CDS para permanecer relevante no cenário madeirense, especialmente num contexto onde a sua base eleitoral tem vindo a diminuir face ao aumento da concorrência no espetro da direita madeirense e a dificuldade do partido em se ajustar ao novo discurso".
O poder, a secetaria da Economia, tudo garante protagonismo ao CDS. Mas este protagonismo, diz Luis Miguel Rosa, "pode ser uma faca de dois gumes. Se, por um lado, fortalece a sua posição política, por outro, aumenta o risco de ser visto como um partido submisso ao PSD, perdendo a sua identidade própria. De facto, a médio e longo prazo, há o risco de uma crescente “dependência” do PSD-Madeira, o que pode comprometer a sua autonomia política e dificultar a afirmação de uma identidade distinta junto do eleitorado. Outro desafio prende-se com a responsabilidade partilhada da governação. Ao integrar o executivo, o CDS não só participa nos sucessos, mas também arca com o peso das decisões impopulares que possam ser tomadas. Qualquer crise política ou económica será inevitavelmente associada aos partidos que compõem o governo, o que pode afetar a sua imagem pública".
Por isso, defende, "sem prejuízo do acordo celebrado e o respeito pelas políticas comuns, cabe ao CDS adotar várias estratégias que lhe permitam manter a sua identidade política e, ao mesmo tempo, beneficiar da participação no governo regional. Em primeiro lugar, definir uma agenda própria e visível, garantindo que tem bandeiras políticas claras e distintas dentro do governo, promovendo medidas que reflitam os seus valores e prioridades, como o apoio às pequenas e médias empresas, a economia social e a defesa da família. Além disso, deve comunicar de forma eficaz as suas conquistas dentro da governação, destacando as medidas que são fruto da sua intervenção direta. Outro ponto essencial é a diferenciação na comunicação pública, evitando alinhar-se cegamente com o discurso do PSD e adotando uma comunicação própria, reforçando as diferenças ideológicas e programáticas sempre que possível".
Comments