Num quadroem maioria absoluta e com a Oposição reforçada, o PSD pode ganhar eleições mas perder o poder.
A evolução da situação política na Madeira, sobretudo nas últimas semanas, poderá configurar um novo enquadramento futuro na representatividade parlamentar e, por consequência, na formação do próximo governo saído das Regionais antecipadas. Os acontecimentos recentes, no PSD, no PS e no reposicionamento do CDS, bem como uma muito provável alteração relativamente ao CHEGA (poderá não conseguir manter os 4 lugares) e à Iniciativa Liberal (sem Nuno Morna pode ficar mais difícil eleger deputado), poderão, em conjunto, influenciar um novo quadro político para a Madeira, mesmo sem colocar em causa o PSD vencedor, mas mantenho a tendência de descida verificada há algum tempo.
Independentemente das razões estatutárias que assistem à liderança do PSD Madeira, toda a encenação e a divisão efetiva terão reflexos nas Regionais, uma dificuldade no objetivo de Miguel Albuquerque em conquistar a maioria absoluta. Não se põe a questão, ainda, de vencer, mas neste momento qualquer perda pode significar a entrega do poder a uma alternativa, sabendo-se que a contagem faz-se, cada vez mais, por dois, três votos.
Uma tensão permanente no partido, o PSD, acusações de parte a parte e uma ideia de apego ao poder, com uma clara claque de articulistas em órgão do costume, também este posicionado num determinado sentido do sistema, o que aliás é histórico, aliando-se uma realidade que visa atrasar processos que pudessem conduzir a eleições internas, tudo isso pode manter as estruturas e a base de apoio, mas não se sabe como vai reagir o eleitorado e que leitura irá fazer desta realidade. Controlar dentro é fácil, controlar fora é mais difícil, sobretudo numa conjuntura em que, cada vez mais, Miguel Albuquerque está numa posição isolada. Dentro tem meio partido contra, fora já não tem aliados, mesmo salvaguardando que esta história de aliados muda de verdade a cada dia. Mas a verdade é que o PSD, por este andar, pode até vencer as eleições, mas corre o risco de perder poder negocial.
Pelo contrário, o líder do PS-M, que não tem o fulgor e a popularidade de 2019, poderá ter ganho algum capital com esta decisão de promover eleições internas. Com pouco ou muito tempo estas atitudes são até bem recebidas pelo eleitorado geral. E ao contrário do PSD, o PS até pode aumentar dois ou três deputados, o que numa negociação que eventualmente venha a acontecer, supostamente com o JPP e até com o CDS, pose ser relevante esse aumento de representatividade parlamentar. Neste quadro, mesmo sem vencer eleições, pequenos ganhos podem valer grandes negociações. Desde que chegue a 24, no total.
Mas há um outro dado novo que pode criar perigo ao PSD e solução alternativa se o entendimento alternativo for nesse sentido. O líder do CDS Madeira já percebeu que Miguel Albuquerque não quer nada com projetos futuros. O PSD vai sozinho, acha que chega, e José Manuel Rodrigues já viu que Miguel Sousa está a "trabalhar" e a ser "trabalhado" para vir a ser presidente da Assembleia, onde no tempo de Jardim já foi vice. Desta vez, Albuquerque certifica-se que José Manuel Rodrigues não vai interferir, como o fez quando "afastou", por negociação, Tranquada Gomes e Cunha e Silva. Neste momento, Albuquerque diz que vai sozinho, arrisca, e assume, nesse risco, que depois das eleições pode ficar sozinho mas a precisar de parceiro (s).
O líder do CDS não perdeu tempo e já lançou uma perspetiva de solução alternativa para evitar este impasse governativo. Sem Albuquerque, vira-se à esquerda. E a verdade é que o figurino e as incidências encaminham o futuro para uma realidade que pode passar por uma solução idêntica à que conduziu o PS ao poder, na República, com o apoio do PCP e o BE, mesmo com o PSD a ganhar as eleições. Assim haja entendimento no sentido de um objetivo comum e não de um pressuposto ideológico das forças convergentes nesse acordo. Não aconteceu no passado, não significa que não aconteça no futuro.
Miguel Albuquerque acredita muito em si, é resistente à crítica e certamente vai passar a campanha pedindo a maioria absoluta, mas é importante ter em conta os cenários possíveis, desde logo na feitura das listas, com a paridade que a nova lei altera, mas também preparando o PSD parlamemtar para um cenário de Governo e de oposição.
Mas como o próprio diz, com alguma insistência, o povo decide em quem vota e como distribui os votos.
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